Elas viveram anos com dor na vagina até descobrirem um problema
neurológico
Helena Bertho da Universa 10/06/2018
Analice Alves tem 54 anos, é advogada e mora no sul do país. Ana Alice
Mantovan tem 32 anos, é técnica em enfermagem e mora em São Paulo. Além dos
nomes parecidos, elas têm algo mais em comum: passaram anos sofrendo com dores
vaginais intensas, sem ter um diagnóstico preciso do que poderia
ser.
As duas fizeram dezenas de exames, passaram por muitos médicos e ouviram
deles que "era coisa da cabeça" ou que a dor seria
"normal". Tiveram suas vidas sexuais afetadas e chegaram a achar que
seria assim para sempre, até que conseguiram encontrar médicos especializados e
conseguiram fazer o diagnóstico. Elas tinham uma doença rara chamada neuralgia
do pudendo.
A conexão entre o cérebro e a vagina
Todas a sensações do corpo, de dor ou prazer, são transmitidas pelo
sistema nervoso. E a região pélvica é cheia de nervos, sendo o pudendo, um dos
mais importantes, por fazer a conexão entre a vagina e o cérebro.
"Ele chega à vagina, ao clitóris e períneo", explica o
ginecologista Nucélio Lemos, especialista em neurodisfunção pélvica. Ele
compara esses nervos à fiação que transmite os estímulos sexuais da região ao
cérebro: "É como se a vagina fosse o interruptor, os nervos, o fio, e o
cérebro, a lâmpada que acende". Quando esse fio é obstruído ou esmagado,
essa conexão pode ser interrompida ou passar a ser defeituosa, transmitido os
sinais da maneira errada. Isso é o que acontece na neuralgia.
O nervo passa a transmitir os sinais de maneira errada, causando dor
intensa na hora do sexo e de se sentar, ardor para urinar e evacuar e a
sensação de um corpo estranho dentro da vagina.
"Relação sexual, nem
pensar"
Aos 48 anos de idade, as dores de Analice começaram. Não só na vagina,
mas também na coluna e nas pernas. Mas a vulva era o pior. "Uma sensação
de ardência muito forte, parecia que tinha um fogo, uma queimação", conta.
Passou por vários ginecologistas e urologistas sem sorte, por quase seis
anos. Nesse meio tempo, viu sua vida sexual praticamente desaparecer. "Nem
pensar, era muita dor. E ficava com medo pelo meu marido, pensando: 'será que
ele vai entender?'. O marido entendia e a apoiava, mas era um dos poucos.
Da maior parte dos médicos, ela ouvia que o problema devia estar em sua
cabeça ou que "era normal, devido à idade". Foi só quando foi
internada, por causa da dor, que um médico suspeitou da possibilidade de um
problema neurológico e a encaminhou para um especialista. Seu caso foi
diagnosticado como neuralgia do pudendo. E ela pode começar a buscar ajuda.
"As pessoas acham que você é
louca"
Para Ana Alice, foram sete anos de sofrimento. Ela tinha muita dor e
muita cólica, que depois de um tempo passaram para a vagina, o lado esquerdo do
abdome e irradiou para a perna, levando a dificuldades para andar.
Ela passou por diversos médicos e encontrou uma endometriose que foi
tratada, mas nada da dor passar. "Seu psicológico está abalado, as pessoas
duvidando de você, acham que você é louca e se afastam. Aí, acaba entrando em
depressão", conta.
O seu caso ficou tão intenso, que chegou a usar continuamente uma bomba
de morfina para aliviar a dor. E mesmo assim, um dia teve um pico tão forte que
foi internada. No hospital, um exame específico identificou a neuralgia.
Diagnóstico é muito difícil
A demora que as duas tiveram para identificar o problema não é incomum.
Segundo Tais Petterson, ginecologista do Hospital das Clínicas, o diagnóstico
pode levar de dois a 10 anos. "Não é todo médico que conhece, você faz
exame de imagem e não aparece", explica ela.
Nucélio Lemos é especialista no assunto e conta que a dificuldade do
diagnóstico vem também do fato de se tratar de um problema que mistura
diferentes áreas da medicina: os sintomas levam a paciente ao ginecologista,
mas a raiz do problema é neurológica.
Ele está desenvolvendo, em parceria entre a Universidade Federal do
Estado de São Paulo e a Universidade de Toronto, no Canadá, uma ressonância
específica para identificar esse problema, mas o exame ainda está em fase de
testes - Ana Alice foi uma das participantes dos testes. Atualmente, o
diagnóstico é feito com avaliação clínica minuciosa.
Endometriose e acidente podem ser as
causas
No caso de Ana Alice, o que causou a compressão do nervo foi a
endometriose, que se espalhou para fora do útero. Já Analice não sabe até hoje
o que atingiu seu nervo. Os especialistas explicam que uma série de fatores
pode levar à compressão do nervo pudendo:
§ Cicatriz de
cirurgia perto do nervo
§ Endometriose
§ Uma veia que ocupa
o espaço do nervo
§ Músculo crescendo
sobre o nervo, comum em corredores
§ Tumores
§ Acidentes ou
impacto - comum em ciclistas
§
Fisioterapia, remédios e cirurgia
O tratamento também pode variar. Analice, desde que teve o diagnóstico,
vem testando uma série de tratamentos, sendo que o mais eficiente é um com
radiofrequência. Já Ana Alice fez uma cirurgia por videolaparoscopia (sem
corte) que retirou a endometriose que estava comprimindo o nervo.
A cirurgia é a última alternativa. Primeiro, é tentado um tratamento
multidisciplinar. A dor crônica deixa a paciente deprimida e, por isso, precisa
de tratamento psicológico. Paralelamente, ela faz fisioterapia na
musculatura do assoalho pélvico, para relaxar, alongar e descomprimir o nervo.
Em alguns casos, o Botox é usado para paralisar os músculos do
assoalho pélvico ou do glúteo e, dessa maneira, descomprimir o nervo. Se nada
der certo, o caso passa aser cirúrgico. A operação é feita sem corte, só com o
uso de uma câmera.
Existe ainda uma última alternativa, que é neuromodulação sacral.
"Plantamos um dispositivo no sacro, o ossinho de onde sai o nervo, para
modular e diminuir a sensibilidade à dor", explica a médica
Taís Petterson. Esse modulador afeta apenas a sensação de dor e não
diminui a sensação de prazer da mulher.
Observações da blogueira Maria
Bernadeth Abreu Marques
Este texto é muito coerente com minha experiência pessoal e todas as
pesquisas que venho fazendo. O melhor caminho é o mais natural, com dietas para
as intolerâncias e FISIOTERAPIA PÉLVICA ( em meu caso, tenho o Assoalho Pélvico
tensionado e preciso de exercícios de relaxamento). Como cada caso é diferente,
aconselho que estudem e conheçam o próprio corpo. Eu já consigo administrar a
maioria de minhas crises, o que me permite viajar e ter qualidade de vida. Mas
tenho sintomas eventuais e vivo em cuidados. Uso almofadas furadas para dirigir
ou para trabalhar sentada. O intestino costuma merecer cuidados importantes, pq
se prende, as dores pioram. Cuidem-se com alegria. A depressão pode trazer uma
FIBROMIALGIA, o que parece ser bem pior. Boa sorte!